O 77º Distrito Policial (Santa Cecília), no centro de São Paulo, divide parede com o tráfico de crack. Cerca de 20 pessoas, entre traficantes e usuários, circulam diariamente na área ao lado do DP, vendendo e consumindo a droga dia e noite.
Reportagem de 2007 publicada pela Folha, sob o título "Garotos usam droga ao lado de delegacia", já expunha "consumo de crack e até a tentativa de roubo a transeuntes" no local. O DP está localizado a cerca de 900 m do hoje vazio epicentro da cracolândia.
"A polícia já foi lá [ao lado do DP] fazer batida, mas, depois de alguns dias, os craqueiros estão de volta, porque ninguém ocupa aquele espaço", diz V., moradora do bairro que não se identifica por motivos de segurança.
"Eles [traficantes] abastecem principalmente as pessoas que passam de carro ou param de táxi na av. São João. É bem parecido com drive-thru" afirma a moradora.
O tráfico se instalou nos espaços vazios sob uma alça de acesso ao Minhocão. É possível ver a "boca" fica dos andares de cima da delegacia.
O distrito policial da Santa Cecília é um dos mais famosos da cidade. É usado pela polícia para abrigar presos com curso superior ou que correriam risco em celas de cadeias normais.
O casal Nardoni, os irmãos Cravinho, o jornalista Antônio Pimenta Neves e o juiz Lalau já passaram pelo 77º DP, que conta com quatro celas.
A maioria dos dependentes que recorre ao tráfico naquele ponto (alguns bem vestidos e de carro) apenas compra as pedras e parte sem demora. À noite, quando o Minhocão fecha para automóveis, o movimento fica mais intenso.
Quem escolhe usar a droga ao lado do prédio da polícia (geralmente moradores de rua) faz o que pode para se esconder --seja debaixo de pedaços de madeira, guarda-chuvas ou em tendas de plástico improvisadas.
Para evitar serem vistos, os traficantes cavaram um buraco ao lado da alça do Minhocão. Até cinco pessoas chegam a entrar ao mesmo tempo no esconderijo.
Uma cerca de arame instalada recentemente no muro que divide a delegacia da "boca" revoltou os moradores da região.
"Até eles [policiais] têm medo, até a própria delegacia está tentando se proteger", diz José Ricardo Campelo, presidente da Associação Santa Cecília Viva.
O delegado Kleber Altale, titular da 1ª Delegacia Seccional Centro, admitiu que a polícia precisou colocar uma proteção ali. Altale informou ontem (30), por meio da assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, que a medida foi tomada após um morador de rua ser flagrado no pátio da unidade, no mês passado.
"O delegado ressalta que não serão toleradas ações criminosas não só no entorno da delegacia, mas, também, em toda a região da circunscrição do 77º Distrito Policial", informa a nota.
Procurada pela reportagem, a Subprefeitura da Sé disse que faz a limpeza mensal do espaço. De acordo com o órgão, uma equipe deve voltar ao local ainda nesta semana para desarmar tendas improvisadas que estejam sendo usadas por traficantes e dependentes do crack.
CENTRO LEGAL
Divulgada como um esforço do poder público para sufocar o tráfico que abastece a cracolândia, a Ação Integrada Centro Legal completa um mês nesta semana. Segundo a PM, além das abordagens na Luz, haveria segurança reforçada em bairros como Bom Retiro, Higienópolis e Santa Cecília, onde fica o 77º Distrito Policial.
Pesquisa Datafolha publicada na última quarta-feira mostrou que 2% dos brasileiros com mais de 16 anos admitem já ter experimentado crack. Isso significa cerca de 3 milhões de pessoas.
Numa entrevista recente, até o diretor do Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos da Polícia Civil de São Paulo), Wagner Giudice, disse ter um primo viciado na droga.
Segundo a Polícia Civil, cerca de 2.000 frequentavam a cracolândia em busca de drogas, com um giro diário de 600 consumidores.
Fonte: uol.com.br
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