terça-feira, 27 de novembro de 2012

MATERIA DO DIA - Black Label Society em São Paulo

Zakk Wylde brinca de tocar guitarra para uma legião de fãs

Entre os quase quatro mil fãs que foram assistir ao show do Black Label Society, no último domingo, no HSBC Brasil, uma dupla se destacava. Assim como a maioria dos fãs, eles estavam de camisa preta e calça jeans, visivelmente ansiosos pela entrada da banda.

O mais alto tinha seus 40 anos denunciados pelos cabelos ralos e alguns sulcos no rosto. Do lado dele, alguns centímetros mais baixo e outras décadas mais jovem, estava um garotinho de olhos claros, pele branca e cachos loiros que caiam pelos ombros. No apagar das luzes, ficou a diferença física e sumiu a distância das idades. Quando ouviram a introdução de "Godspeed Hellbound" e perceberam o farfalhar das cortinas, os dois se entreolharam e começaram a gritar.



Com um olho no palco e outro no companheiro, a dupla assistia Zakk Wylde levar o público ao delírio escondido por trás de seus longos cabelos loiros. Sem escutar uma palavra que o vocalista berrava para o microfone mal regulado, o garoto ergueu as mãos com o símbolo do rock e cantou entusiasmado cada um dos versos da música de início. E assim foi em "Destruction Overdrive", "Bored To Tears" e "Berserkers".

Cansado de pular, o sujeito mais experiente pegou sua câmera digital e começou a filmar a empolgação do amigo. A hesitação inicial do garoto em olhar para a lente, rapidamente deu lugar a uma performance digna do cantor principal da noite. Balançando os cachos para cima e para baixo, munido de uma guitarra imaginária, começou a tocar "Bleed For Me", acompanhado dos caras que estavam no palco.



Com a câmera em punho, mas olhando atentamente para a criança, o senhor viu o suor de seus pulos se misturarem às teimosas lágrimas que insistiam em brotar. Após o abraço ligeiro no fim da música, ambos viram Wylde sentar ao piano para homenagear seu falecido amigo de longa data, Dimebag Darrel, do Pantera. Impressionado pela mudança repentina de som, o garotinho guardou a guitarra e começou a questionar o senhor sobre o que estava acontecendo.

Ele recebia atentamente as informações e assentia com a cabeça. Foi então chegada a hora do cansaço alcançá-lo. Dobrando as pernas a todo instante, pediu pro parceiro um lugar para sentar. Eles aproveitaram o clima mais calmo e acharam um local afastado do palco. O intervalo que passaram sentados foi o suficiente para ouvir "The Rose Petalled Garden" e "Forever Down". No entanto, o que viria a seguir impediu que o tempo naquele lugar se estendesse.



Sem o restante do grupo, Zakk Wylde sacou a guitarra para solar durante 15 minutos. Os primeiros instantes não impressionaram o garoto, diferente do mais velho, que por já saber o que ia ocorrer, aconselhou o jovem a levantar e ir para mais perto. A poucos metros do palco ele acompanhou o dedilhar do ídolo sem piscar, nem sacar a própria guitarra. Duas vezes, certo de que a performance tinha chegado ao fim, ameaçou bater palmas - não era a hora. Boquiaberto e timidamente feliz, olhou para cima e quando ia comentar alguma coisa, foi surpreendido pelo retorno da banda.

O início de "Concrete Jungle" tirou-o da inércia que o solo de Wylde causou. Parecendo prever o fim do show, novamente ele pegou a guitarra, dessa vez acompanhado pelo colega. O encerramento da apresentação da dupla veio ao som de "Stillborn", tocado com entusiasmo pelo Black Label. No fim da canção, o garoto jogou a guitarra no chão, subiu nas costas do parceiro e começou a aplaudir seus ídolos.

A cortina se fechou e ele desceu dos ombros do colega, voltando àltura normal. No chão, chamou o companheiro para falar algo. O senhor, visivelmente exausto e alegre, se ajoelhou. Ao pé do ouvido, abafado pelos gritos e aplausos da plateia, a criança juntou as mãos perto da boca e falou: "Pai, eu quero montar uma banda".

Fonte: Omelete

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