terça-feira, 28 de agosto de 2012

MATERIA DO DIA - Plebe Rude bombardeia clichês e tímpanos no Circo Voador




"Seja alguém, não vote em ninguém". É bem por aí. Seabra e sua Plebe, Rude e politizada, não tiram o pé no discurso, tampouco nas palhetadas. "Aumenta que isso aí é rock'n roll", diria o Blues Boy - saudoso Celso - lembrado com este cover durante a apresentação na noite desta sexta-feira, no Circo Voador. Rock na veia, contestação na alma, e overdrive nos ouvidos, o quarteto chegou a formar um power trio e fez um show irretocável de duas horas. Teve espaço até para interpretação em cordas distorcidas do bolero de Maurice Ravel. O que começou com um Plebiscito terminou com Sex Pistols (Holidays In The Sun).

Nada da Plebe pode ser completamente no padrão. Do "R" ao contrário na única peça de cenário - um banner com o nome da banda -, a um solo desengonçado ou uma mudança cirúrgica na letra de uma das músicas, o grupo foge do lugar comum. Um exemplo, a primeira coisa que Seabra fala ao microfone é: "Nós somos a Plebe Rude, não esse MPB chato que toca na Lapa (bairro onde fica o Circo Voador). Puta que o pariu!".

Apesar do show fazer parte de uma série aberta pelos Titãs com a execução de Cabeça Dinossauro na íntegra, em homenagem aos 30 anos do Circo, a Plebe foi a única a fugir do roteiro. Coerente - uma das palavras mais ouvidas no show até para apresentar os músicos -, a banda ignorou a ordem das faixas de "O Concreto Já Rachou", EP Manifesto produzido por Herbert Vianna e lançado em 1985. E os Paralamas também tiveram seu espaço em uma versão feroz de Selvagem.

Mostrando ser perspicaz comunicador, Seabra também perverteu a fórmula para animação de público. Cantou: "Iô, iô, iô" durante Minha Renda e aguardou a reação do público que, naturalmente, o imitou. Em seguida, cortou o barato e disparou: "Cheguei à conclusão que a Plebe nunca mais vai ter música tocada na rádio porque não faz iô, iô, iô. Já sei: as mina pira...". Voltou ao "iô, iô, iô" e perguntou seguidamente, com o público respondendo "sim": "Tem de ter refrão?". Ao ouvir a resposta unânime, repetia: "Vocês não são gado". E assim foi até que não se conseguisse entender direito o que era "sim" e "não" no amontoado de vozes. "Vamos fazer uma vez sem cantar nada, aí toda vez que alguém fizer uma babaquice dessas com vocês, vocês ficam quietos, dizendo que 'você é um babaca'. Iô, iô, iô!". Silêncio.

Os integrantes são enérgicos. Especialmente Clemente, líder dos Inocentes, que trouxe peso no som e na presença de palco. O flerte intenso da Plebe com o punk faz músicas como Pânico Em SP encaixarem perfeitamente no repertório. A todo momento, eles brincam com os clichês: "Boa noite!", disse Seabra, com 1h20 de show. Segundos depois, nem esperou para ver se a platéia cairia na armadilha e pediria "mais um". Era só um break na "Proteção".



O gargarejo também merece destaque. Teve de tudo. De mulher enlouquecida remexendo o esqueleto ao invadir o palco para dar beijinho em Seabra a Joselito querendo apertar a mão do vocalista e guitarrista enquanto tocava Geração Coca Cola", do Legião Urbana. Meio sem saber o que fazer, Seabra riu, parou de tocar e cumprimentou - a banda seguiu. Dentro do padrão Plebe, ficou redondo. Mas o elemento trôpego foi além. Tomou o microfone, mas não saiu som. Não se sabe se coube ao acaso, à distância do palestrante da latinha, ou ao operador de áudio a misericórdia de poupar os presentes do discurso. De outro beijinho, porém, Seabra não escapou.

Em Vote Em Branco, o líder dos plebeus pegou o baixo e, com apenas três no palco, começou a entoar uma levada de jazz de elevador. Era só uma deixa para cuspir marimbondos: "Esse jazz está meio chato, não é? Quem disse que isso aqui é Mistura Fina? Esse é o jazz do brasileiro palhaço. Obrigado a votar. Só no improviso".



O encerramento com pancada de Sid Vicious e companhia, depois do maior sucesso do grupo, Até Quando Esperar, era o que faltava para a Plebe atingir o que apenas bandas autênticas - aquelas com identidade, que você reconhece quando ouve e respeita quando toca (bem ou mal) - conseguem. Uma inexplicável paralisia mental, aquele pensamento de "foi do caralho" que fica alguns minutos senhor do cérebro de quem aprecia um som visceral. Eis o motivo destes plebeus serem parte da nobreza do rock nacional.

Fonte: moglobo 

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