A dez dias do início do julgamento do mensalão, Marcos Valério e seus ex-sócios devem na Justiça pelo menos R$ 83 milhões que saíram dos bancos Rural e BMG para abastecer o PT e partidos aliados em 2003 e 2004.
A Folha teve acesso aos processos no Tribunal de Justiça de Minas em que os bancos cobram o valor, mas, segundo avaliação de envolvidos no episódio, a dívida jamais será paga.
O julgamento começa no dia 2 de agosto no STF (Supremo Tribunal Federal).
Apontado como operador do mensalão, Valério alega que pegou o dinheiro a pedido do PT e, para pagar aos bancos, cobra R$ 100 milhões do partido na Justiça.
"Há uma responsabilidade de natureza civil do PT", diz o advogado de Valério, Marcelo Leonardo.
De acordo com a Procuradoria-Geral da República, em 2003 e 2004 o Rural e o BMG fizeram empréstimos de R$ 64 milhões ao PT e às empresas de Valério.
O objetivo, sustenta a denúncia dos procuradores, era misturar esse valor ao dinheiro público desviado de contratos das empresas de publicidade de Valério com o Banco do Brasil e a Câmara dos Deputados -e, com isso, camuflar a origem ilegal dos recursos do mensalão.
O PT nega e afirma que o dinheiro que repassou a aliados e a integrantes do partido, para atender a despesas eleitorais, vieram exclusivamente dos empréstimos feitos no Rural e no BMG.
E diz que pagou a sua parte em 2009, não reconhecendo, por consequência, a dívida cobrada hoje de Valério.
Já a Procuradoria descreve o mensalão de outra forma: como um esquema de compra de apoio político no Congresso organizado pelo PT no início do governo Lula.
E diz que os bancos liberaram o dinheiro em troca de receber benefícios do governo. Não teriam a intenção de cobrá-lo, o que só fizeram após o estouro do escândalo.
O Banco Rural, segundo a Procuradoria, queria o apoio do governo na aquisição de parte do Banco Mercantil de Pernambuco.
Já o BMG, diz a denúncia, teria sido beneficiado na operação de empréstimos consignados de servidores públicos.
PENHORA
Os documentos mostram que as dívidas de Valério com os dois bancos estão longe de ser quitadas.
Um dos empréstimos, de R$ 17,4 milhões, por exemplo, foi parar no arquivo da Justiça mineira no mês passado.
Trata-se do empréstimo de do Rural à Graffiti, empresa do grupo de Valério.
A dívida foi atualizada para os R$ 17,4 milhões em 2005, quando a cobrança começou, mas hoje pode ser muito maior. O banco alega que o caso será reativado quando localizar bens de Valério para penhorar.
Em 2009, Valério assinou uma "confissão parcial de dívida" ao dar uma Pajero e uma Toyota Fielder para abater R$ 120 mil de outra das pendências, de R$ 38,4 milhões, referente a empréstimo do Rural à SMPB, principal empresa do grupo.
Além disso, seu ex-sócio Ramon Hollerbach deu imóveis avaliados em R$ 420 mil. Os dados mostram que até agora apenas 1,5% desse empréstimo foi quitado.
No processo, Valério e os ex-sócios chegaram a apresentar fazendas apontadas como fantasmas pela Justiça para tentar abater a dívida.
Valério não pagou os empréstimos junto ao BMG que, segundo ele, também foram destinados ao PT.
OUTRO LADO
O Banco Rural e o BMG afirmam que os empréstimos são verdadeiros e que, por isso, cobram a dívida na Justiça.
As instituições bancárias disseram ainda, via assessoria, que estão em busca de bens a serem penhorados.
"Até a presente data não foi logrado êxito na localização de bens passíveis de constrição judicial", informou o BMG.
"Em todos os casos houve o reconhecimento judicial da legitimidade dos empréstimos e dos termos das cobranças judiciais. A instituição conseguiu receber apenas uma pequena parte dos créditos e ainda busca localizar mais bens passíveis de penhora", disse o Rural.
O advogado de Marcos Valério, Marcelo Leonardo, argumenta que, além de cobrar do PT os valores, o seu cliente não tem como pagar as dívidas porque, após o escândalo do mensalão, suas empresas perderam os contratos que possuíam.
"As agências [...] deixaram de ter condições de ter receita para honrar compromissos", disse.
Já a direção do PT afirmou apenas que pagou os empréstimos que fez diretamente aos dois bancos.
Fonte: Folha.uol
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