terça-feira, 18 de março de 2014

Bloqueador de celular em presídio falhou enquanto PCC planejava fuga

O sistema de bloqueadores de celular recém-instalado na penitenciária 2 de Presidente Venceslau (611 km de São Paulo) apresentou falhas enquanto o PCC (Primeiro Comando da Capital) combinava os últimos detalhes de um plano de fuga para resgatar do presídio Marcos Herbas Camacho, o Marcola, e mais três lideranças da facção --Cláudio "Barbará" da Silva; Célio Marcelo da Silva, o Bin Laden; e Luiz Eduardo Barros, o "Du Bela Vista".

O equipamento foi inaugurado em 31 de janeiro deste ano, com a presença do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que afirmou, no evento de inauguração, que "os testes feitos mostram que em nenhum ponto dentro da penitenciária se consegue comunicação".

No entanto, um representante do Ministério Público que participa das investigações do PCC em Presidente Venceslau confirmou ao UOL os problemas com os equipamentos, como a existência de "pontos de sombra", que são áreas descobertas pelos bloqueadores.

A informação foi confirmada pelo presidente do Sindasp (Sindicato dos Agentes Penitenciários de São Paulo), Daniel Grandolfo, que participou da cerimônia de inauguração dos bloqueadores. "Os equipamentos estão passando por ajustes de potência. Técnicos vão quase que diariamente lá para fazer ajustes e acertar a localização dos bloqueadores. Vai levar algum tempo até funcionar perfeitamente", disse.

O plano de fuga do PCC consta de um relatório secreto elaborado pela inteligência da polícia, das secretarias de Segurança Pública e da Administração Penitenciária (SAP) e do Ministério Público. A facção utilizaria dois helicópteros blindados e um avião para resgatar os quatro detentos. Eles seriam levados até o aeroporto de Loanda (PR) e depois seguiriam de avião ao Paraguai.

No documento secreto, ao qual a reportagem do UOL teve acesso, não é descrita a forma como as conversas foram capturadas. Um membro do MP que não quis se identificar informou que os diálogos travados entre detentos são gravados por interceptações telefônicas e escutas ambientais. Segundo ele, o uso dos grampos telefônicos é mais comum.

Após a divulgação do relatório, a Justiça acolheu pedido do governo do Estado para transferir Marcola e as outras três lideranças de Presidente Venceslau para o presídio de Presidente Bernardes (580 km de São Paulo), onde cumpriram pena no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD).

"Ou vamos estar mortos ou na rua"
No relatório, há quatro conversas de Bin Laden posteriores à instalação dos bloqueadores. Em 2 de fevereiro, dois dias após a visita do governador a Presidente Venceslau, o detento diz que "só falta fazerem os testes [com as aeronaves] para eles começarem a fase de execução da ação (fuga)."

"Daqui uns dias não vai ter jeito, ou nós vamos estar mortos ou vamos estar na rua ou vamos estar no 'big' [gíria para o Regime Disciplinar Diferenciado]", afirmou Bin Laden, na mesma conversa com um interlocutor não identificado.

Na mesma data, Bin Laden conversa com o irmão Márcio Rogério da Silva, cuja função no plano seria a de pilotar um dos helicópteros, e dá detalhes sobre a ação. Ele afirma que Marcola e Barbará, as duas principais lideranças do PCC, "quem algo excepcional."

Ainda de acordo com o relatório secreto, em 4 de fevereiro Bin Laden comenta que ele já está serrando as grades da janela da cela, colocando-as no lugar e pintando-as. A última conversa interceptada data de 7 de fevereiro, quando Bin Laden cogita usar um ponto de apoio à fuga em Assis (434 km de São Paulo).

Outro lado
Procurada pela reportagem sobre as falhas, a SAP afirmou que depois da instalação de bloqueadores "nenhum preso fez ligação de celular" na penitenciária 2 de Presidente Venceslau. A pasta não informou que as conversas de Bin Laden que aparecem no relatório são fruto de gravações telefônicas, escutas ambientais ou outro método de interceptação.

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) afirmou que as investigações são sigilosas e não quis emitir posicionamento.

Sistema "jamming"
A penitenciária 2 de Presidente Venceslau foi a primeira do Estado a receber os bloqueadores depois que o Gaeco (Grupo Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) concluiu a maior investigação sobre o PCC, em outubro de 2013.

A investigação, feita a partir de interceptações de conversas por celular realizadas dentro e fora dos presídios, resultou na denúncia contra 175 supostos integrantes da facção. Após a conclusão da investigação, o governo abriu licitação para instalar os bloqueadores de celular em 23 presídios, a um custo total de R$ 31 milhões.

A empresa vencedora da licitação para a instalação dos equipamentos foi a Neger Tecnologia e Sistemas, que é responsável por adquirir os bloqueadores e mantê-los em funcionamento. O sistema escolhido pela empresa tem como base a geração de ruído, conhecido com jamming, nas faixas de frequência do serviço móvel pessoa, serviço móvel especializado e rede wi-fi de todas as operadoras.

Um representante da empresa procurado pela reportagem disse que os equipamentos passam por ajustes constantes. Ele negou dar detalhes sobre o funcionamento dos bloqueadores porque disse haver um contrato de sigilo entre o governo e a empresa.

De acordo com o engenheiro João Carlos Lopes, professor do Instituto Mauá de Tecnologia, especializado em segurança de sistema de informação, os bloqueadores que operam com o jamming não deveriam apresentar falhas depois que os testes demonstraram a eficácia dos equipamentos no presídio de Presidente Venceslau.


"Pode ser que exista um vazamento de sinal, algum problema técnico ou que se tenha desligado a antena, mas depois de implantado e verificado, a eficácia deste tipo de bloqueador é de 99,9%. Não é para acontecer falhas", disse.

Fonte: Uol


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