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Nasi faz show amanhã embalado pela volta de sua antiga banda e pelo repertório do último disco solo, “Perigoso”
PUBLICADO EM 20/02/14 - 03h00
As fotos que ilustram essa matéria não enganam: Nasi é uma espécie de “Godfather”, o poderoso chefão de Mário Puzzo, eternizado nas telas por Coppola. A seu modo, claro: a ascendência italiana que justifica o sangue quente e o jeito de durão, que no fundo parecem esconder um coração sentimental. Características que o inscrevem em uma longa galeria de personagens eternizados pelo rock’n’roll.
Seu disco mais recente, “Perigoso”, base do show que o traz para o palco do Circus Rock Bar amanhã, testemunha isso. A faixa-título é uma espécie de carta de intenção com seus versos venenosos: “Esses canalhas que me encheram de bolor / É uma piada, pois pra mim eles são nada / Eu agradeço o maldito pé que me pisou / Pois vi que tenho duas pernas pra firmar”. “A música e o disco têm esse caráter de volta por cima, sim” diz ele. “E essa faixa tem uma coisa meio Johnny Cash, um ídolo meu, que também tem ar de ‘lamber as feridas, de não vão me derrubar’. É uma coisa de personagem, mesmo”, diz.
Quem leu “A Ira de Nasi”, explosiva biografia do cantor assinada por Mauro Betting e Alexandre Petillo, soube que ele é um especialista no assunto perigo. “Já andei muito à beira do abismo”, assume, com o currículo bastante cheio de histórias envolvendo os clássicos clichês do mundo artístico. “Agora eu tenho apenas que manter minha fama de mau”, brinca, citando outro de seus heróis casca-grossa, Erasmo Carlos.
O Tremendão, aliás, é presença firme na vida de Nasi nos últimos anos. Afinal, “Perigoso” saiu pelo selo Coqueiro Verde, pilotado por Erasmo e seu filho; foi com o ídolo como convidado que Nasi estreou seu programa de entrevistas no Canal Brasil (“Nasi Noite à Dentro”, exibido aos sábados, à 0h), e foi um dos homenageados pelo cantor em seu disco, com a regravação de “Dois Animais na Selva Suja da Rua”.
“Sempre gostei muito dele, especialmente do trabalho na década de 1970, discos mais soul, voltados para a música negra. ‘Carlos, Erasmo’ (disco de 1972, de onde ele tirou a canção regravada) é daqueles trabalhos que você ouve e gostaria de ter feito. É maravilhoso, todas as canções muito boas, cheio de experimentações”, diz Nasi. “Esse contato é uma coisa legal, ele é um ídolo. Apesar de ser um gigante, mantém a coisa de menino, roqueiro. Invejo. Quero envelhecer assim”, elogia.
O disco traz outras regravações, como “As Minas do Rei Salomão”, num arco afetivo que captura também Raul Seixas, também dos seus favoritos, outro notório outsider da música popular brasileira (apesar do imenso sucesso popular). Uma filiação que parece natural na carreira do cantor. “Agora que você está falando é que notei, nem tive essa intenção objetiva”, reconhece o cantor. “Como intérprete, vou procurar uma poesia e um discurso que casam com meu jeito de ser. Raul fez outro de meus discos de cabeceira, ‘Krig Ha Bandolo’. Tanto ‘Carlos, Erasmo’ quando este do Raul estão além de grandes discos de rock: são dos maiores discos da música brasileira”.
“Vou fazer uma proposta que ele não pode recusar”. É possível fantasiar que foi com a antológica frase proferida por Marlon Brando em “O Poderoso Chefão” que Nasi deve ter retomado a histórica parceria com o guitarrista Edgard Scandurra, à frente do Ira!, anunciada no mês passado. Uma das maiores instituições do rock brasileiro, o núcleo-base do grupovolta para a estrada este ano, já com 200 apresentações agendadas. Volta do Ira! (Nasi e Scandurra)
Mas não foi exatamente assim: a paz que estava ausente desde 2007, quando um feio imbróglio público envolvendo os integrantes do grupo e o empresário Aílton Júnior (irmão do cantor), voltou depois de muita conversa.
Como Nasi também assinou alguns dos maiores discos do rock brasileiro, a bordo de sua banda, oção do seu patrimônio artístico que o fez ligar para o guitarrista Edgard Scandurra, “retomando contato, estendendo a bandeira branca”. “Ele estava articulando um show beneficente, para crianças especiais, e eu me coloquei à disposição para participar, como artista”, diz. Ira!, talvez tenha sido essa no
Depois da apresentação, no dia 30 de outubro do ano passado, naturalmente eles ficaram mexidos com “a mobilização gerada em torno disso, a reação do público e no prazer retomado” em trabalharem juntos. Ambos foram para as férias de verão compromissados em pensar sobre uma volta. “Concluímos que existe um espaço muito vivo nas nossas vidas e na cabeça das pessoas para o Ira!”,diz. “Acho que surgiu um novo capítulo para banda”.