"Carnival Of Souls: The Final Sessions"
Lançado em 28 de outubro de 1997
A turnê de divulgação para o álbum Revenge, que culminou no lançamento do ótimo Alive III e ainda passou pela edição brasileira do Monsters Of Rock em 1994, marcou o início de um processo nostálgico no KISS. Vários sons antigos que haviam sido deixados de lado estavam sendo incluídos no repertório, como “Watchin’ You”, “Got To Choose”, “Makin’ Love” e por aí vai. Alguns shows em pequenos pubs, com público pequeno e seleção de canções predominantemente antigas, foram realizados. Logo após, houve o lançamento do tributo Kiss My Ass, também prestando tributo ao passado. Por fim, o quarteto embarcou na Worldwide Kiss Convention Tour – outra turnê feita para pequenos públicos em eventos centralizados na história da banda mais quente do mundo, com os clássicos tocados em formato acústico. A ideia acabou no MTV Unplugged, que divulgou ao mundo inteiro que a formação original estava de volta.
Carnival Of Souls: The Final Sessions foi gravado no meio desse contexto, que já dava indicativos de uma reunião da formação original. As gravaçõesforam de novembro de 1995 até fevereiro de 1996, com a produção de Toby Wright, que tem trabalhos de Alice In Chains, Korn e Slayer em seu currículo. Por conta dos acontecimentos ocorridos naquela época, o álbum foi engavetado, mas por ser tão pirateado, o Kiss decidiu lançá-lo oficialmente.
Nenhuma divulgação foi feita, até porque a magia das máscaras e da formação original era (e ainda é) mais forte e o foco do trabalho feito naquele momento não poderia ser desviado. O baterista Eric Singer, revoltado, alegou que nunca mais voltaria a tocar com a dupla dinâmica e se recusou a participar das coletivas que antecederam e sucederam o lançamento desse disco que é, de longe, o mais menosprezado da trajetória dos caras. Pagou língua, mas a vida tem dessas.
Em suma, Carnival Of Souls: The Final Sessions traz uma sonoridade densa, arrastada e pesada, que desdobra a proposta visceral já apresentada em Revenge. O quarteto tentou se mostrar antenado às propostas musicais em ascensão na época, que trazia extensões como o Grunge e o Rock Alternativo como “a onda do momento”. A influência do Alice In Chains e do Soundgarden é mais do que notória – é discrepante. Trata-se de mais um daqueles álbuns que são muito bons, mas que trazem pouco da consagrada identidade da banda que o fez. A reunião dos membros originais foi necessária, afinal o Kiss voltou ao topo novamente. Mas, por parte da maioria dos fãs mais ferrenhos (como eu), há uma grande curiosidade do que essa formação, de qualidade musical exuberante, poderia ter feito além dos dois lançamentos que a tiveram.
A abertura com “Hate”, filha bastarda e rebelde de “Unholy” (do disco antecessor), traz riffs incrivelmente pesados de Bruce Kulick e vocais endiabrados de Gene Simmons, que voltou a assumir a alcunha de Demon que outrora o consagrou. “Rain” dá sequência com uma levada cadenciada e arrastada, cortesia da bateria de Eric Singer. “Master & Slave”, uma das melhores aqui presentes, tem como destaque a poderosa voz de Paul Stanley, que cai bem até na depravação melódica aqui apresentada.
“Childhood’s End”, composta por Simmons, Kulick e o atual guitarrista do grupo, Tommy Thayer, tem um refrão grudento e viciante, além de nuances melódicas apaixonantes e um básico porém ótimo solo de guitarra – trata-se de um single em potencial. “I Will Be There”, única balada presente, mostra Stanley inspiradíssimo. O uso de violões de afinação mais grave e baixo fretless comprova que Bruce assumiu a maioria do instrumental sozinho não só aqui, mas ao decorrer de todo o álbum. “Jungle”, que chegou a ser lançada como single e atingiu o top 10 das paradas Mainstream Rock da Billboard, retoma o peso com uma cozinha cavalar, guitarras poderosas e mais uma performance incrível de Paul.
“In My Head”, canção capitaneada por Gene com riff monstruoso e bateria rasgada, vem em seguida, juntamente de “It Never Goes Away”, onde Paul solta o gogó como nunca e “Seduction Of The Innocent”, outro petardo de Simmons com refrão bem feito e atmosfera bem dark. “I Confess” e “In The Mirror”, apesar de conservarem bons instrumentais, são mais mornas e pouco incisivas. Chamam pouca atenção. A maior surpresa do álbum estava no final: “I Walk Alone”, composição de Bruce Kulick que teve sua voz como a principal, é uma das melhores das presentes. Andamento pesado, envolvente e com solo marcante. Um musicão.
Mesmo sem a divulgação que todo disco merece, Carnival Of Souls: The Final Sessions conquistou a 27ª posição nas paradas norte-americanas, perambulou por lá por quatro semanas (o menor tempo que um álbum do KISS já esteve por lá, mas ao menos esteve por lá) e, como já relatado, emplacou “Jungle” nos charts especializados. Permanece como um dos únicos, juntamente de Music From The Elder e Sonic Boom, além do recém-lançado Monster, a não conquistarem ao menos um disco de ouro na terra do Tio Sam.
Mas vale ressaltar que a audição desse disco é altamente recomendada. Até hoje no clima de revival que o KISS assumiu desde Psycho Circus, em 1998, nunca mais veremos a trupe se desvincular tanto de sua sonoridade consagrada como aqui.
Paul Stanley (vocal em 2, 3, 5, 6, 8 e 11; guitarra)
Gene Simmons (vocal em 1, 4, 7, 9 e 10; baixo)
Bruce Kulick (vocal em 12; guitarra; violão de 6 e 12 cordas; baixo em 2, 5, 6, 8, 11 e 12)
Eric Singer (bateria, percussão)
01. Hate
02. Rain
03. Master & Slave
04. Childhood’s End
05. I Will Be There
06. Jungle
07. In My Head
08. It Never Goes Away
09. Seduction Of The Innocent
10. I Confess
11. In The Mirror
12. I Walk Alone
Fonte: Whiplash
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